O calor que vem se intensificando em várias regiões do Brasil, especialmente no Nordeste, já começa a dar sinais de que o segundo semestre de 2025 será marcado por extremos climáticos. No Piauí, a situação é ainda mais preocupante. A Defesa Civil do Estado aponta que o cenário atual é consequência direta de um inverno atípico, com chuvas irregulares, curtas e insuficientes para manter o equilíbrio ambiental.
Segundo Werton Costa, diretor de Prevenção e Mitigação da Defesa Civil do Piauí, o período chuvoso deste ano foi marcado por um início tardio, um término precoce e longos veranicos, períodos de estiagem dentro da própria estação chuvosa. “Foi um ciclo curto, fragmentado, com pouca água infiltrada no solo, pouca recarga dos lençóis freáticos e um impacto direto na vegetação e nos reservatórios”, explica.
Esse desequilíbrio já está afetando o clima. Com menor cobertura vegetal e baixos níveis de umidade no solo, o ambiente fica mais suscetível ao superaquecimento da superfície, o que resulta em temperaturas acima da média mesmo em meses tradicionalmente mais amenos.
“Se já estamos vivendo calor excessivo num período de transição entre o chuvoso e o seco, o que se projeta para os próximos meses é um cenário muito quente, seco e desafiador para vários setores, incluindo saúde, agricultura, abastecimento e segurança ambiental”, alerta Werton Costa.
Essa antecipação de eventos extremos também é observada no mundo. Uma imagem capturada pela Agência Espacial Europeia (ESA) no último sábado (29), por meio da missão Copernicus Sentinel-3, mostra temperaturas extremas na superfície terrestre e marítima no sul da Europa e norte da África. Países como Espanha, Itália e Grécia já enfrentam ondas de calor severas, que são consideradas um alerta para o que pode ocorrer em outras regiões do planeta.
O mês de julho, que começou nesta semana, já traz consigo características típicas do chamado BR-O-BRÓ, período conhecido no Piauí pelas altas temperaturas e baixa umidade do ar. De acordo com Costa, a segunda quinzena de julho pode ser especialmente crítica, com comportamentos semelhantes ao mês de agosto, tradicionalmente o mais quente do ano no estado.
“Se essa tendência continuar, é possível que agosto antecipe as condições de setembro, e que o BR-O-BRÓ, que geralmente começa mais forte entre setembro e dezembro, já esteja em curso desde agora”, afirma. A Defesa Civil trabalha com a hipótese de um trimestre marcado por extremos térmicos e baixa umidade, com possíveis impactos em áreas urbanas e rurais.
Sistema de proteção deve estar em alerta
Diante desse quadro, órgãos públicos de saúde, meio ambiente, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros devem reforçar ações preventivas. A baixa umidade do ar, somada às altas temperaturas, pode agravar doenças respiratórias, aumentar o risco de incêndios e reduzir a qualidade da água e do solo, especialmente nas regiões mais secas do estado.
Werton Costa também destaca a necessidade de mobilização da sociedade para enfrentamento desse cenário: “É hora de reforçar o uso consciente da água, cuidar da saúde, evitar queimadas e adotar medidas de autoproteção. O que vemos hoje não é apenas uma onda de calor, é um reflexo direto de um desequilíbrio climático que exige atenção e preparo”, conclui.